Por que será que não nos surpreendemos mais com essas notícias que vêm de Brasília? A cada dia que passa é uma novidade... E novidades que, em outros países, especialmente ao norte do Equador, seriam suficientes para, no mínimo, causar renúncias de cargos, demissões e – conforme o caso – até mesmo suicídios.
Mas aqui nesta terrinha abençoada por um Deus que se faz representar por Herr Hatzinger (daí, talvez, a certeza de sua falibilidade), as novidades acontecem, as denúncias surgem, há uma certa agitação – para inglês ver – e, assim que a poeira assenta, tudo volta ao status quo ante. Nada acontece, tudo continua absolutamente igual. Apenas nossos políticos sujaram-se um pouquinho mais – mas nada que uma boa lavadeira não consiga consertar, especialmente se essa lavadeira já estiver bem treinada numa certa forma muito peculiar de lavagem.
Agora foi a vez do Renan. Ele mesmo, o Calheiros, presidente do Senado. Um homem que deveria ter conduta exemplar, comportamento a servir de modelo.
Mas não... Eis que surge uma filha, uma mulher que o leva à Vara de Família por causa de pensão alimentícia e comprovação de paternidade. Coisas que costumamos ver nos jornais, implicando pessoas de esferas político-sociais bem mais baixas e que, vez por outra, acabam em tragédia.
Aliás, a bem dizer a verdade, a tragédia aí já está: o presidente do Senado envolvido com propinas, presentes inadequados, aventuras extra-conjugais, filha fora-de-hora. Um caso amoroso ainda pode ser perdoável – desde que exista realmente o amor. Não é porque um indivíduo está ocupando a cadeira central da mesa do Senado que ele está livre de se apaixonar, de sentir a necessidade de mudar a vida. Tal fato já ocorreu com tantos... Veja-se o exemplo do Ciro Gomes. Mas ele assumiu. E o caso não foi parar em nenhuma Vara de Família.
Com o Renan foi bem diferente. A prova de que não houve amor está justamente no fato de a mulher envolvida ter de ir parar diante de um Juiz para discutir pensão alimentícia e paternidade. Se amor houvesse, esses detalhes seriam absolutamente supérfluos. Como dizem os advogados, intempestivos, impertinentes e extravagantes.
Outro fator a ser considerado: ao assumir um “rebento”, é no mínimo mais ou menos normal que o pai assuma o seu sustento tirando do próprio bolso as despesas decorrentes da existência de um ser que, de fato, não pediu para vir ao mundo. E o Renan “entregou” a lista dessas despesas para uma empresa... Que certamente não aceitou tal encargo simplesmente pelos belos olhos envidraçados do Senador. Sabemos todos que no mundo dos negócios e da política, não há essa história de ir para a cama por amorzinho... Há pagamento, troca, barganha, escambo. Isso sim.
No episódio Renan, houve apenas um “caso”. Tão fortuito que as conseqüências acabaram por gerar a confusão. E a confusão não é a menina – por sinal, se puxou a mãe, será bem bonita – mas sim a necessidade patológica de seguir errado aquilo que começou torto. Houve o erro – de cálculo, de comunicação, de pontaria – e parece que o implicado na história pensou seguindo a velha norma do “perdido por perdido, perdido e meio”. E isso para ser delicado... Por que gastar o meu dinheiro se é tão simples fazer com que outros gastem por mim? Por que pagar por um ato se outros podem fazê-lo por mim? Na verdade, parece ser esta a sina do brasileiro – o comum, aquele que trabalha e sofre calado, aquele que não foi laureado com um diploma de político e nem deixou um lugar reservado no Inferno – aquele que Herr Hatzinger garantiu que existe para punir as pessoas que andam mal nesta vida – e transformaram-se em empresários ou profissionais corruptos. A sina do brasileiro é pagar para qe outros usufruam. Cinco meses de trabalho por ano só para pagar impostos! E ainda se valesse a pena...!
Mas é isso aí... A julgar pelo que andamos vendo nestes últimos tempos, periga de não sobrar ninguém no Congresso, no Judiciário, no governo.
Mas, como já foi dito antes e até virou título de livro, sempre há esperança.
E a esperança é praticamente uma certeza, pois o Poder Judiciário, num formidável mecanismo de auto-defesa, acabará por absolver todo mundo – ou quase todo mundo, deixando um ou outro Tiradentes ser sacrificado – de forma que sempre sobrará muita gente.
Concomitantemente, o Congresso fará o mesmo.
E nós continuaremos a acreditar no IBGE, no IBOPE, nos índices, nas porcentagens, nas palavras e lágrimas do Presidente... Continuaremos a pagar impostos para assistir ao desgoverno, para ver nossos representantes ganharem fortunas por mês, para ver os três pilares da nossa sociedade – a Segurança, a Educação e a Saúde – esboroarem dia após dia, governo após governo.
E Deus – que disseram ser brasileiro – parece achar graça.
O que não é contraditório, pois nós somos mesmo uma piada. Pena que seja uma piada muito sem graça.
26 maio 2007
Não vai sobrar ninguém
26 maio 2007
Não vai sobrar ninguém
Por que será que não nos surpreendemos mais com essas notícias que vêm de Brasília? A cada dia que passa é uma novidade... E novidades que, em outros países, especialmente ao norte do Equador, seriam suficientes para, no mínimo, causar renúncias de cargos, demissões e – conforme o caso – até mesmo suicídios.
Mas aqui nesta terrinha abençoada por um Deus que se faz representar por Herr Hatzinger (daí, talvez, a certeza de sua falibilidade), as novidades acontecem, as denúncias surgem, há uma certa agitação – para inglês ver – e, assim que a poeira assenta, tudo volta ao status quo ante. Nada acontece, tudo continua absolutamente igual. Apenas nossos políticos sujaram-se um pouquinho mais – mas nada que uma boa lavadeira não consiga consertar, especialmente se essa lavadeira já estiver bem treinada numa certa forma muito peculiar de lavagem.
Agora foi a vez do Renan. Ele mesmo, o Calheiros, presidente do Senado. Um homem que deveria ter conduta exemplar, comportamento a servir de modelo.
Mas não... Eis que surge uma filha, uma mulher que o leva à Vara de Família por causa de pensão alimentícia e comprovação de paternidade. Coisas que costumamos ver nos jornais, implicando pessoas de esferas político-sociais bem mais baixas e que, vez por outra, acabam em tragédia.
Aliás, a bem dizer a verdade, a tragédia aí já está: o presidente do Senado envolvido com propinas, presentes inadequados, aventuras extra-conjugais, filha fora-de-hora. Um caso amoroso ainda pode ser perdoável – desde que exista realmente o amor. Não é porque um indivíduo está ocupando a cadeira central da mesa do Senado que ele está livre de se apaixonar, de sentir a necessidade de mudar a vida. Tal fato já ocorreu com tantos... Veja-se o exemplo do Ciro Gomes. Mas ele assumiu. E o caso não foi parar em nenhuma Vara de Família.
Com o Renan foi bem diferente. A prova de que não houve amor está justamente no fato de a mulher envolvida ter de ir parar diante de um Juiz para discutir pensão alimentícia e paternidade. Se amor houvesse, esses detalhes seriam absolutamente supérfluos. Como dizem os advogados, intempestivos, impertinentes e extravagantes.
Outro fator a ser considerado: ao assumir um “rebento”, é no mínimo mais ou menos normal que o pai assuma o seu sustento tirando do próprio bolso as despesas decorrentes da existência de um ser que, de fato, não pediu para vir ao mundo. E o Renan “entregou” a lista dessas despesas para uma empresa... Que certamente não aceitou tal encargo simplesmente pelos belos olhos envidraçados do Senador. Sabemos todos que no mundo dos negócios e da política, não há essa história de ir para a cama por amorzinho... Há pagamento, troca, barganha, escambo. Isso sim.
No episódio Renan, houve apenas um “caso”. Tão fortuito que as conseqüências acabaram por gerar a confusão. E a confusão não é a menina – por sinal, se puxou a mãe, será bem bonita – mas sim a necessidade patológica de seguir errado aquilo que começou torto. Houve o erro – de cálculo, de comunicação, de pontaria – e parece que o implicado na história pensou seguindo a velha norma do “perdido por perdido, perdido e meio”. E isso para ser delicado... Por que gastar o meu dinheiro se é tão simples fazer com que outros gastem por mim? Por que pagar por um ato se outros podem fazê-lo por mim? Na verdade, parece ser esta a sina do brasileiro – o comum, aquele que trabalha e sofre calado, aquele que não foi laureado com um diploma de político e nem deixou um lugar reservado no Inferno – aquele que Herr Hatzinger garantiu que existe para punir as pessoas que andam mal nesta vida – e transformaram-se em empresários ou profissionais corruptos. A sina do brasileiro é pagar para qe outros usufruam. Cinco meses de trabalho por ano só para pagar impostos! E ainda se valesse a pena...!
Mas é isso aí... A julgar pelo que andamos vendo nestes últimos tempos, periga de não sobrar ninguém no Congresso, no Judiciário, no governo.
Mas, como já foi dito antes e até virou título de livro, sempre há esperança.
E a esperança é praticamente uma certeza, pois o Poder Judiciário, num formidável mecanismo de auto-defesa, acabará por absolver todo mundo – ou quase todo mundo, deixando um ou outro Tiradentes ser sacrificado – de forma que sempre sobrará muita gente.
Concomitantemente, o Congresso fará o mesmo.
E nós continuaremos a acreditar no IBGE, no IBOPE, nos índices, nas porcentagens, nas palavras e lágrimas do Presidente... Continuaremos a pagar impostos para assistir ao desgoverno, para ver nossos representantes ganharem fortunas por mês, para ver os três pilares da nossa sociedade – a Segurança, a Educação e a Saúde – esboroarem dia após dia, governo após governo.
E Deus – que disseram ser brasileiro – parece achar graça.
O que não é contraditório, pois nós somos mesmo uma piada. Pena que seja uma piada muito sem graça.
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