07 dezembro 2010

Voltar no Tempo

Vemos, a todo instante, pessoas mais velhas, já entrada em anos, como eu, dizerem que, se pudessem voltar aos seus vinte anos...

Eu, de cima dos meus 64 invernos, não quero voltar aos meus vinte anos. Foi uma época da qual guardo pouquíssimas saudades e as que retenho carinhosamente na memória não estão ligadas ao que era mais importante na ocasião, ou seja, a Faculdade de Medicina.

Eu gostaria de voltar aos meus 45 anos, vale dizer, apenas 20 anos atrás. Essa sim, foi uma época boa...

E, daí, vem a segunda parte do desejo da maioria das pessoas que eu conheço, a velha e gasta frase “faria muita coisa de maneira diferente”.

No bojo dessa sentença há uma enorme sombra de arrependimento.

Não é o que acontece comigo. Não me arrependo de nada, não mudaria nada, apenas viveria de novo.

Amores? Foi a época de ouro, o ápice de minha vida amorosa, Nicole me fez não apenas feliz, mas felicíssimo... Finanças? Dava para viver. Trabalhava como um mouro escravo, mas fazia exatamente o que queria e gostava de fazer: escrevia, criava personagens, locais, vivências, aventuras... Na realidade, estava permanentemente em férias, viajando, vivendo aventuras fantásticas. Tinha de trabalhar assim, às vezes escrevendo três livros de 128 páginas cada um, num dia só, pois tinha de manter uma família de cinco pessoas e quatro cães. Exatamente por isso, jamais me preocupei com a dita “inspiração”. Isso é coisa para escritor rico, que pode se dar o luxo de escrever quando quer, quando se diz “inspirado”. Eu tinha de escrever. Era uma necessidade gástrica e não espiritual. Ou escrevia, ou não comia.

Mas eu era feliz, sem a menor sombra de dúvida. Amigos? Tinha o suficiente, leais, realmente “chegados” e não apenas conhecidos. Saúde? Tinha até demais.

Para que não haja a oportunidade de vocês me chamarem de mentiroso, uma coisa eu mudaria: teria os computadores e o apoio da informática de que disponho hoje. Sim, minha vida teria sido bem mais fácil se eu pudesse dispor dessa maquininha maluca para escrever os meus primeiros mil livros...! Seria muito mais fácil pesquisar no Google, seria mito mais rápido, não precisaria refazer uma página inteira por causa de um erro cometido, seria simples fazer o copydesk (cirurgia de texto) e gastaria muito menos tempo para enviar originais para os editores, além de poder garantir que eles seguiriam revisados (nunca se deram o trabalho de fazer uma revisão, por mais simples que fosse) e devidamente preparados para a impressão.

Naquela época, o trabalho era realmente à unha, nem lembro mais quantas máquinas de escrever eu moí, especialmente por que meus dedos parecem ter herdado o peso dos dedos tramontinos de meus antepassados lusitanos... Foi depois de uma entrevista com o Jô Soares, quando ele me deu uma bela bronca no ar, que eu passei a usar um PC. Ele disse que era um absurdo eu ainda escrever em máquinas de datilografia e não num computador. Saí da gravação direto para uma loja de informática e, criando coragem, comprei um 386. Daí a evolução foi natural e hoje disponho de uma Workstation e de uma ilha de edição, o que permite deixar o livro absolutamente pronto no que concerne à fase de pré-impressão. Não me espanta a idéia de vir a adquirir uma dessas máquinas de fastgraphic e, de repente, ter o livro pronto para venda. Isso digo no que concerne ao livro em papel, coisa antiga, já até começando a criar bolor, pois os livros eletrônico, os atuais e-books, já ficam prontos aqui mesmo e são diretamente transportados para a minha livraria virtual. Sem aluguel de lojas, sem pagamento de funcionários, etc... A vida ficou muito mais fácil.

Seria a única coisa que eu, de fato, mudaria. Gostaria de poder voltar aos meus 45 anos com essa tecnologia toda. O resto seria idêntico. Não mudaria absolutamente nada.

E podem ter inveja de mim aqueles que, se voltassem no tempo, fariam muita coisa diferente, mudariam o esquema de vida, viveriam de outra forma.

Fui um homem muitíssimo feliz.

Hoje, tenho apenas saudades daqueles anos... Uma saudade gostosa, que me faz, ao senti-la, lembrar-me de toda aquela felicidade e, de coração, dizer: Viveria tudo de novo, da mesma maneira que vivi. Só com a diferença de ter, na mão, um computador.

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07 dezembro 2010

Voltar no Tempo

Vemos, a todo instante, pessoas mais velhas, já entrada em anos, como eu, dizerem que, se pudessem voltar aos seus vinte anos...

Eu, de cima dos meus 64 invernos, não quero voltar aos meus vinte anos. Foi uma época da qual guardo pouquíssimas saudades e as que retenho carinhosamente na memória não estão ligadas ao que era mais importante na ocasião, ou seja, a Faculdade de Medicina.

Eu gostaria de voltar aos meus 45 anos, vale dizer, apenas 20 anos atrás. Essa sim, foi uma época boa...

E, daí, vem a segunda parte do desejo da maioria das pessoas que eu conheço, a velha e gasta frase “faria muita coisa de maneira diferente”.

No bojo dessa sentença há uma enorme sombra de arrependimento.

Não é o que acontece comigo. Não me arrependo de nada, não mudaria nada, apenas viveria de novo.

Amores? Foi a época de ouro, o ápice de minha vida amorosa, Nicole me fez não apenas feliz, mas felicíssimo... Finanças? Dava para viver. Trabalhava como um mouro escravo, mas fazia exatamente o que queria e gostava de fazer: escrevia, criava personagens, locais, vivências, aventuras... Na realidade, estava permanentemente em férias, viajando, vivendo aventuras fantásticas. Tinha de trabalhar assim, às vezes escrevendo três livros de 128 páginas cada um, num dia só, pois tinha de manter uma família de cinco pessoas e quatro cães. Exatamente por isso, jamais me preocupei com a dita “inspiração”. Isso é coisa para escritor rico, que pode se dar o luxo de escrever quando quer, quando se diz “inspirado”. Eu tinha de escrever. Era uma necessidade gástrica e não espiritual. Ou escrevia, ou não comia.

Mas eu era feliz, sem a menor sombra de dúvida. Amigos? Tinha o suficiente, leais, realmente “chegados” e não apenas conhecidos. Saúde? Tinha até demais.

Para que não haja a oportunidade de vocês me chamarem de mentiroso, uma coisa eu mudaria: teria os computadores e o apoio da informática de que disponho hoje. Sim, minha vida teria sido bem mais fácil se eu pudesse dispor dessa maquininha maluca para escrever os meus primeiros mil livros...! Seria muito mais fácil pesquisar no Google, seria mito mais rápido, não precisaria refazer uma página inteira por causa de um erro cometido, seria simples fazer o copydesk (cirurgia de texto) e gastaria muito menos tempo para enviar originais para os editores, além de poder garantir que eles seguiriam revisados (nunca se deram o trabalho de fazer uma revisão, por mais simples que fosse) e devidamente preparados para a impressão.

Naquela época, o trabalho era realmente à unha, nem lembro mais quantas máquinas de escrever eu moí, especialmente por que meus dedos parecem ter herdado o peso dos dedos tramontinos de meus antepassados lusitanos... Foi depois de uma entrevista com o Jô Soares, quando ele me deu uma bela bronca no ar, que eu passei a usar um PC. Ele disse que era um absurdo eu ainda escrever em máquinas de datilografia e não num computador. Saí da gravação direto para uma loja de informática e, criando coragem, comprei um 386. Daí a evolução foi natural e hoje disponho de uma Workstation e de uma ilha de edição, o que permite deixar o livro absolutamente pronto no que concerne à fase de pré-impressão. Não me espanta a idéia de vir a adquirir uma dessas máquinas de fastgraphic e, de repente, ter o livro pronto para venda. Isso digo no que concerne ao livro em papel, coisa antiga, já até começando a criar bolor, pois os livros eletrônico, os atuais e-books, já ficam prontos aqui mesmo e são diretamente transportados para a minha livraria virtual. Sem aluguel de lojas, sem pagamento de funcionários, etc... A vida ficou muito mais fácil.

Seria a única coisa que eu, de fato, mudaria. Gostaria de poder voltar aos meus 45 anos com essa tecnologia toda. O resto seria idêntico. Não mudaria absolutamente nada.

E podem ter inveja de mim aqueles que, se voltassem no tempo, fariam muita coisa diferente, mudariam o esquema de vida, viveriam de outra forma.

Fui um homem muitíssimo feliz.

Hoje, tenho apenas saudades daqueles anos... Uma saudade gostosa, que me faz, ao senti-la, lembrar-me de toda aquela felicidade e, de coração, dizer: Viveria tudo de novo, da mesma maneira que vivi. Só com a diferença de ter, na mão, um computador.

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